LUZ, CÂMERA E HISTÓRIA: O FILME NA SALA DE AULA

LUZ, CÂMERA E HISTÓRIA: O FILME NA SALA DE AULA

O projeto de pesquisa e extensão Luz, Câmera e História! o filme na sala de aula
foi idealizado pelo historiador Rodrigo de Almeida Ferreira e implementado no Centro Universitário UNA (Belo Horizonte/MG), em 2009. A proposta é refletir sobre o uso pedagógico de um filme e seu papel na educação não-escolar, ou seja, referente a qualquer espectador, estudante ou não, especialmente em relação a temas ligados à História, política e cidadania.

O projeto favorece aos graduandos dos cursos de História e de Pedagogia da UNA discussões qualitativas referentes à relação entre o cinema e a educação. Um segundo momento das atividades do grupo é a exibição comentada de filme para a comunidade escolar de ensino básico. Trata-se de um espaço de integralização entre a teoria e a prática docente. No campo social, as sessões comentadas favorecem o contato de estudantes do ensino básico com o mundo universitário. São momentos em que ocorre a universalização do saber acadêmico junto à comunidade.

terça-feira, 24 de abril de 2012



XICA DA SILVA
exibição comentada em 28 de abril de 2012

A história da ex-escrava Francisca da Silva representa um caso interessante do nosso passado. Primeiro, pelo fato desta cativa do arraial do Tejuco (atual Diamantina) ter se envolvido amorosamente com o Contratador dos Diamantes, João Fernandes de Oliveira, um dos homens mais ricos e poderosos do Império Português do século XVIII. Apesar deste tipo de relação entre senhor e escrava ter sido comum na sociedade luso-brasileira, a estabilidade desta união foi duradoura e com muitos filhos. O destaque sócio-político e econômico do contratador lhe garantiu sustentar aquela situação que rompia os padrões da época, mas também alimentou o escândalo e oposição por tamanha distância étnica-social.
Em segundo lugar, a história que se passou no interior de Minas Gerais é bastante conhecida em vários pontos do extenso território brasileiro. O modo como essa história se disseminou exemplifica como o passado histórico circula e é utilizado por variados setores da sociedade. Sem dúvida, o filme Xica da Silva, lançado por Cacá Diegues em 1976, foi muito importante para a construção dessa história pública. O filme segue o ritmo de uma comédia carnavalesca embalada pela contagiante música-tema de Jorge Ben. E conta, ainda, com interpretações memoráveis tanto de atores conhecidos, como Walmor Chagas e José Wilker, quanto nomes em início de carreira, como Zezé Mota e Stephan Nercessian.
Mas antes de virar filme, a história da sociedade diamantinense já havia sido registrada por diferentes suportes. Memórias do Distrito Diamantino, escrito pelo jornalista e memorialista Joaquim Felício dos Santos, no século XIX, retrata em suas páginas a ex-escrava Francisca da Silva, porém com outras cores da representação mais conhecida atualmente. A depreciação da história de Xica reflete os valores preconceituosos correntes naquele final de século.
Uma mudança na abordagem da temática ocorre em 1963, quando a escola de samba carioca Acadêmicos do Salgueiro levou para a avenida o enredo Xica da Silva: a mulata que era escrava. O samba enredo, composto por Anescarzinho e Noel Rosa de Oliveira, retomava a narrativa construída no século XIX, porém desta vez a negra ganhava destaque por ter conseguido aproveitar as brechas na sociedade e ganhar prestígio local. O desfile foi um sucesso, trazendo inovações para a produção carnavalesca e foi coroado com o título para escola.
Poucos anos depois, a literatura reforçou a ideia de uma ex-escrava poderosa. Em 1966 foi lançado o livro Chica que manda, de Agripa Vasconcellos, um autor que se notabilizou por romances históricos tendo como fundo Minas Gerais; como Chico Rei e Dona Beija. Como se percebe, muitas já eram as referências sobre Xica da Silva, e o diretor Cacá Diegues soube muito bem aproveitar delas para reconstruir a história. Além da literatura e do carnaval, é possível perceber um conjunto iconográfico nos cenários e nas cenas do seu longa-metragem. A Xica de Cacá foi tão impactante que até o nome da ex-escrava passou a ser grafado com “X”.
E o imaginário em torno de Xica da Silva prosseguiu com a telenovela feita pela extinta Rede Manchete, em 1996. O sucesso da produção se apropriava de outras referências, ao mesmo tempo em que criava uma Xica extremamente sexualizada e vingativa.
Como se percebe, em um século de registros há uma intensa circularidade do conhecimento histórico, tornando a história desta ex-escrava conhecida em todo o país e mesmo no exterior, pois diante desta riqueza a historiadora Júnia Furtado desenvolveu intensa pesquisa cujos resultados foram publicados no livro Chica da Silva: o outro lado do mito, traduzido para o inglês.
Portanto, são múltiplas as possibilidades analíticas dessa história. A exibição comentada do filme Xica da Silva oferecerá um pouco dessa discussão e de outros elementos dessa história pública.

Abaixo, seguem algumas obras sobre o tema:

 





Chica que manda, lançado por Agripa Vasconcellos em 1966, pela editora Itatiaia

Em Introdução à História Pública, lançado em 2011 pela Letra e Voz, reflexões sobre os espaços de produção e divulgação da História são temas de um conjunto de autores. Destaco o capítulo Cinema, Educação e História Pública: dimensões do filme Xica da Silva, de minha autoria









 

Chica da Silva: o outro lado do mito, ótimo trabalho histórico no qual Júnia Furtado parte da biografia da ex-escrava para melhor compreender aquela sociedade setecentista, lançado pela Cia das Letras em 2003. 


Publicado por Rodrigo de Almeida Ferreira

sexta-feira, 20 de abril de 2012

INSCRIÇÕES PARA SESSÃO COMENTADA

XICA DA SILVA - 28/04



Quem quiser participar da sessão comentada do filme Xica da Silva, que será exibida em 28 de abril, basta enviar um comentário nesta postagem deixando seu nome completo e instituição de ensino.

Solicitamos o favor de realizar esse procedimento devido ao número restrito de assentos na Casa UNA, onde o filme será exibido.

Grato pela compreensão, 
Equipe Luz. Câmera. História! o filme na sala de aula.

 

quarta-feira, 18 de abril de 2012

 Luz, Câmera e História! o filme na sala de aula. 
As sessões vão começar...


Nesse semestre a temática dos filmes a serem exibidos pelo Luz. Câmera e História! O filme na sala de aula. gira em torno de algumas abordagens feitas pelo cinema em relação ao negro na sociedade brasileira. Os três filmes escolhidos perpassam temporalidades históricas marcantes. 
O primeiro a ser exibido será Xica da Silva (dir.Cacá Diegues, 1976), que conta a história da ex-escrava  que ganhou prestígio ao se amasiar com o Contratador dos Diamantes, João Fernandes de Oliveira, um dos homens mais poderosos do Império português, pervertendo os valores vigentes na sociedade diamantina do século XVIII.
A sessão de maio exibirá Quanto vale ou é por quilo? (dir. Sérgio Bianchi, 2005), um ótimo trabalho que faz uma ponte entre o período da escravidão e os projetos assistencialistas de ong's de caráter muitas vezes duvidosos, permitindo perceber permanências de uma mentalidade escravista.
A sessão de despedida deste semestre acontecerá em junho e reserva o filme Quase dois irmãos (dir.Lúcia Murat, 2004). A diretora retrata a amizade entre duas crianças, uma branca de classe média alta, e outra negra pobre. O destino as separam, mas promove dois reencontros: um durante a ditadura militar, quando ambos estão presos no presídio de Ilha Grande; o branco como preso político e o negro como preso comum. Anos depois, um novo reencontro: o branco agora é senador da república, enquanto o negro se tornou um poderoso traficante.
Os filmes revelam o preconceito existente em nossa sociedade em ações sutis e muitas vezes internalizadas, mas que temos dificuldades para reconhecer, seja por um sentimento de culpa, seja por conveniência. Então, venha assistir aos filmes e participar dos debates conosco para pensarmos, por meio do conhecimento histórico e do cinema, questões da nossa organização social contemporânea.