LUZ, CÂMERA E HISTÓRIA: O FILME NA SALA DE AULA

LUZ, CÂMERA E HISTÓRIA: O FILME NA SALA DE AULA

O projeto de pesquisa e extensão Luz, Câmera e História! o filme na sala de aula
foi idealizado pelo historiador Rodrigo de Almeida Ferreira e implementado no Centro Universitário UNA (Belo Horizonte/MG), em 2009. A proposta é refletir sobre o uso pedagógico de um filme e seu papel na educação não-escolar, ou seja, referente a qualquer espectador, estudante ou não, especialmente em relação a temas ligados à História, política e cidadania.

O projeto favorece aos graduandos dos cursos de História e de Pedagogia da UNA discussões qualitativas referentes à relação entre o cinema e a educação. Um segundo momento das atividades do grupo é a exibição comentada de filme para a comunidade escolar de ensino básico. Trata-se de um espaço de integralização entre a teoria e a prática docente. No campo social, as sessões comentadas favorecem o contato de estudantes do ensino básico com o mundo universitário. São momentos em que ocorre a universalização do saber acadêmico junto à comunidade.

domingo, 18 de novembro de 2012

CAPITALISMO: UMA HISTÓRIA DE AMOR
Sessão comentada em 24 de novembro de 2012 


Quando se está apaixonado, é difícil ver os problemas do outro...
Se você está em um romance com o crédito disponível, renovação dos seus bens domésticos de consumo, troca do automóvel, compra da casa própria... Você vai amar o filme "Capitalismo:
uma história de amor".
Por quê? Porque a consciência, a indignação e a denúncia são os primeiros passos para a mudança.
Em 24/11 o “Luz, Câmera, História” vai exibir e comentar o filme do contundente e polêmico cineasta Michael Moore. Dessa vez, Moore documenta a crise financeira que explodiu nos EUA em 2008, atingindo inicialmente o setor imobiliário, e que ainda hoje tem consequências na economia de todo o mundo.
O diretor revela os bastidores dos poderes econômico e político, revelando ações inescrupulosas e inconseqüentes para garantir os ganhos de uma minoria, como: os despejos em massa por inadimplência; a política secreta de seguro de vida sobre funcionários de grandes corporações; o custo para se estudar e a desvalorização profissional; a especulação nas bolsas de valores. Mas aborda também famílias de despejados, movimentos de trabalhadores, pessoas que se organizam para desafiar as injustiças contra eles cometidas. Enfim, como define a crítica no Huffington Post: "o mais importante e urgente filme político de nosso tempo". 
 
Para se inscrever deixe seu nome completo na caixa de comentários desta postagem. Ou cadestre seu nome na sessão de eventos na página do projeto no facebook: 
luz camera historia.
 
Rodrigo de Almeida
 
Sinopse:
 
O documentário explora as raízes da crise financeira global, no período de transição entre a saída de George Bush e a posse de Barack Obama no governo dos EUA, as falcatruas políticas e econômicas que culminaram no que o diretor descreve como "o maior roubo da história dos EUA": a transferência de dinheiro dos contribuintes para instituições financeiras privadas.
 
Ficha Técnica

Título no Brasil:  Capitalismo: Uma História de Amor
Título Original:  Capitalism: A Love Story
Direção:  Michael Moore 
País de Origem:  EUA
Gênero:  Documentário
Tempo de Duração:  127 minutos
Ano de Lançamento:  2009
Site Oficial: 
Estúdio/Distrib.: Paramount Pictures Brasil
 
 
Fonte: http://www.interfilmes.com/filme_23481_capitalismo.uma.historia.de.amor.html

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

UTOPIA E BARBÁRIE
sessão comentada em 20 de outubro de 2012
 
 
Após a exibição de Valsa com Bashir, daremos continuidade às sessões comentadas. Em 20 de outubro será exibido Utopia e Barbárie, dirigido pelo cineasta brasileiro Sílvio Tendler. Lançado em 2010, o filme é resultado de um ambicioso projeto do diretor que passou quase duas décadas desenvolvendo pesquisas e coleta de material. 
O resultado é um documentário de elevado nível. Construindo uma narrativa sólida, que articula imagens canônicas e outras menos conhecidas e uma ampla rede de entrevistas (percorreu mais de 15 países), Tendler nos oferece um filme sobre a História a partir da segunda metade do século XX. 
O diretor tem se dedicado a fazer documentários sobre a História do Brasil focando personagens políticos do nosso passado: Os anos JK (1980); Jango (1984), Tancredo: a travessia (2011). Desde o filme sobre Jango, uma característica do trabalho de Tendler é sua opção por fazer uma abordagem do passado/personagens permeada pela emoção, com a intenção de sensibilizar o espectador enquanto este reflete sobre as informações/imagens a que assiste. 
Utopia e Barbárie pode ser considerado como um projeto pessoal, no qual a informação, alicerçada em ampla pesquisa com fontes, une-se a subjetividade e às convicções do diretor. Sonhos e projetos de um mundo melhor são confrontados com a realidade e barbarismo que assola a humanidade. Não à toa, o próprio Tendler se insere no filme em determinados momentos, se posicionando diante dos acontecimentos retratados na telona.
Para quem está familiarizado com a História contemporânea após a 2ª Grande Guerra, a exibição fílmica e o debate ampliarão o conhecimento sobre esse período. E para quem tem pouco contato com os acontecimentos desse século tão intenso, uma ótima oportunidade para compreender melhor o passado recente e que nos ajuda a entender as bases dos nossos valores e problemas atuais. 
Então, venha assistir a esse belo filme e analisar conosco o significado das imagens canônicas e absurdas do holocausto e da bomba atômica; da juventude e seus gritos por liberdade nos anos 60; a violência das ditaduras e a luta pela redemocratização nos países sul americanos; a queda do socialismo real; e a esperança em meio a intolerância no Oriente Médio.
Aproveitando o tema dessa sessão comentada, o Luz, Câmera, História! o filme na sala de aula! presta uma singela homenagem a um dos mais brilhantes historiadores recentes, Eric Hobsbawm, falecido aos 95 anos, em 1º de outubro. Dentre os amplos temas abordados pelo autor, sua vasta e qualificada produção, indico a leitura de A Era dos Extremos: o breve século XX (1914-1991), no qual Hobsbawm analisa o século dos sonhos e das guerras, da Utopia e Barbárie

 Rodrigo de Almeida
SINOPSE

Aborda os principais eventos históricos ocorridos desde a 2ª Guerra Mundial. A partir da experiência de militares, dramaturgos, jornalistas, políticos, escritores e sobreviventes das guerras que marcaram o século XX, analisa o mundo polarizado entre as utopias que nele foram criadas e as barbáries que o pontuaram. O desmonte das utopias da geração de 1968 e a criação de novas utopias no mundo globalizado.

Fonte: http://www.cinemateca.gov.br

  
Para saber mais sobre as Utopias e Barbáries do século XX, leia:


Eric Hobsbawm e o clássico A Era dos Extremos
Zuenir Ventura relata o conturbado ano de 1968 no Brasil




 
 
 
 Luz, Câmera e História! o filme na sala de aula. 
 
Programe-se para as próximas sessões...


 
 
 
Após o sucesso da sessão comentada de "Valsa com Bashir", programe-se para as próximas... 
 
Em 20 de outubro será exibido o emocionante e reflexivo "Utopia e Barbárie" (dir.Sílvio Tendler). 
 
O mês de novembro, no dia 24, reserva o contundente e incomodante "Capitalismo: uma história de amor" (dir.Michael Moore)".
 
 
 
 
 
  

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

VALSA COM BASHIR
sessão comentada em 29 de setembro de 2012


Valsa com Bashir, dirigido por Ari Folman em 2008, arrebatou prêmios e elogios de crítica e público (cf. trailer http://www.youtube.com/watch?v=Ak_2NWhr_g4 ). O filme é uma animação intensa, dinâmica e forte que narra o drama individual de um ex-combatente israelense da guerra do Líbano (1982) com um bloqueio de memória sobre sua participação no conflito quando ocorreram os massacres de Chatila e Sabra. Na realidade, trata-se da história do próprio diretor, que na busca por entender o que ocorreu naquele período procura antigos combatentes para relembrarem juntos. Mas, para seu desespero, percebe que para eles a memória dos acontecimentos é também ambígua. 
O filme, para além dos seus aspectos estéticos de excelente qualidade; da fotografia à música e à animação; favorece reflexões relativas a memória: sua construção e formas de silenciamento, conforme salienta o historiador Michael Pollak (cf. http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/view/2278/1417). 
O formato em animação pode, a princípio, distanciá-lo da concepção convencional do gênero documentário, mas sua estrutura narrativa, calcada na história oral e fotográfica, não deixa dúvidas quanto ao seu efeito documental referente à guerra do Líbano, sobretudo aos referidos massacres. Cenas como a invasão dos tanques ao Líbano; o diálogo do diretor com seu amigo psicanalista; ou os momentos do massacre; são instigantes e reveladoras.
Trata-se de um olhar dos vencedores políticos daquela guerra. Mas, como ser humano, Ari Folman termina por denunciar a imbecilidade dos conflitos armados, nos quais todos são derrotados. Como salientou em entrevista (cf. http://hojetemcinema.wordpress.com/2010/05/15/entrevista-de-ari-folman-para-cahiers-du-cinema/#more-953), ele procurou inverter a natureza glamourosa implícita nos filmes de guerra, mesmo quando estes possuem um tom crítico. Para Folman, sua intenção ao filmar Bashir é que os jovens que o assistisse não quisessem fazer parte de uma guerra. Por isso procura fazer com que o expectador desperte ao ver cenas reais do massacre. 
Um maravilhoso filme com a bandeira da paz. 

Para participar da sessão comentada, que será realizada no dia 29 de setembro, na Casa UNA (r. Aimorés, 1451), mande um comentário a essa postagem com seus dados, ou se preferir, confirme sua participação no evento via facebook (luz camera historia). As inscrições são limitadas e gratuitas. Observe ainda a faixa indicativa do filme: 16 anos.

Sinopse
Numa noite num bar, um homem conta ao velho amigo Ari sobre um pesadelo recorrente no qual é perseguido por 26 cães alucinados. Toda noite é o mesmo número de bestas. Ambos concluem que o pesadelo tem a ver com a missão deles no exército israelense contra o Líbano, décadas atrás. Ari, no entanto, fica surpreso ao perceber que não consegue mais se lembrar de nada sobre aquele período da sua vida. Intrigado com o enigma, Ari decide se encontrar e entrevistar velhos camaradas pelo mundo. Ele tem necessidade de descobrir toda a verdade sobre aquele tempo e sobre si mesmo. E, quanto mais ele se aprofunda no mistério, mais suas lembranças se tornam aterrorizantes e surreais.
 
Ficha Técnica


Título original: Vals Im Bashir
Ano: 2008
Artista Gráfico: David Polonsky
Diretor: Ari Folman
Produção: Ari Folman/ Serge Lalou/ Gerhard Meixner/ Yael Nahlieli/ Roman Paul
Roteiro: Ari Folman
Trilha Sonora: Max Richter
Duração: 90 min.
Gênero: Animação / Biografia / Drama / Guerra
Cor: Colorido
Distribuidora: Não definida
Classificação: 16 anos
País: Alemanha, Austrália, Bélgica, EUA, Finlândia, França, Israel, Suíça.


Postado por Rodrigo de Almeida Ferreira





sexta-feira, 10 de agosto de 2012


ACONTECE...

MOSTRA CHARLES CHAPLIN


Carlitos, em Uma vida de cão. Fonte: www.pop4.com.br
Do dia 10 de agosto até o dia 6 de setembro, a Fundação Clóvis Salgado apresenta no Cine Humberto Mauro, no Palácio das Artes, a maior mostra de Charles Chaplin já exibida no Brasil. Neste período, serão exibidos todos os filmes realizados pelo ator e cineasta britânico. Na programação estão também palestras, debate, uma conferência, ministrada pelo crítico francês Jean Douchet, o lançamento de um catálogo com textos inéditos e clássicos sobre a obra de Chaplin. Destaque para o curso ministrado por Jonathan Rosenbaum, um dos mais importantes críticos de cinema do mundo que vem pela primeira vez ao Brasil.
Ao todo, 87 filmes estarão em cartaz na mostra, sendo 13 longas, 10 exibidos em 35mm e um em 16mm, e 74 curtas e médias-metragens. Em um trabalho minucioso de pesquisa e firmação de parcerias, a mostra conta com sete longas e sete curtas vindos da França, três longas (em 35mm) da Espanha e curtas-metragens (em 16mm) cedidos por Lula Cardoso, maior colecionador dos filmes de Chaplin no País.
Destaque, ainda, para a abertura ao ar livre, com a exibição de “Luzes da Cidade” no Parque Municipal Américo Renné GianettiOs ingressos para a sessão de abertura serão distribuidos a partir das 14h, da sexta-feira, na bilheteria do Cine Humberto Mauro. Distribuição gratuita, limitada a um par por pessoa. Serão distribuidos 450 ingressos.
fonte: http://www.fcs.mg.gov.br/agenda/2832,charles-chaplin.aspx

Para ver a programação completa e sinopses dos filmes, acesse:
http://www.fcs.mg.gov.br/agenda/2832,charles-chaplin.aspx

 

terça-feira, 7 de agosto de 2012


DE VOLTA ÀS ATIVIDADES ACADÊMICAS

 

É com alegria que convidamos os interessados em participar com a equipe do Luz. Câmera e História! o filme na sala de aula! das discussões relativas ao potencial educativo escolar e não-escolar dos filmes para a reunião inicial das atividades desse 2º semestre de 2012.


segunda-feira, 30 de julho de 2012

ACONTECE...
 
Atrelada às discussões do projeto de pesquisa e extensão Luz, Câmera e História..., será oferecida no II Simpósio de Professores UNA/2012 a oficina LUZ, CÂMERA E EDUCAÇÃO! O FILME NA SALA DE AULA. A oficina é destinada aos professores da instituição e será ofertada no dia 2 de agosto, em duas ocasiões: turno da manhã e turno da noite. O evento acontecerá no campus Aimorés, no Auditório Menor, 2º Andar. A oficina será conduzida pelo profº. Rodrigo de Almeida, e sua proposta e programa são:

 
Analisar a relação entre cinema e educação a partir da historicização do desenvolvimento da sétima arte e sua inserção nos processos educativos, refletindo junto ao corpo docente do Centro Universitário UNA as possibilidades relativas ao uso do filme como prática pedagógica, bem como
seu papel na circularidade do conhecimento.
n 
  • Breve história do cinema  n 
  • Cinema e Educação: verdade, conhecimento e Estado n 
  • Ficção e  o filme documentárion 
  • Professor, aluno e o filme  
 Rodrigo de Almeida
 


terça-feira, 24 de julho de 2012

LUZ, CÂMERA, HISTÓRIA! O FILME NA SALA DE AULA


ASSISTIU... NA ESTRADA




On The Road - Na Estrada: 
do livro à telona; da telona à sala de aula

Liberdade. Uma palavra cujo significado é difícil precisar.
Jack Kerouac, escritor norte-americano, mergulhou nessa aventura. Não na tentativa de conceituá-la, mas para experenciá-la. Seu romance On The Road (Na Estrada) foi escrito a partir das suas vivências em viagens pelos Estados Unidos e México. Para dar conta do ritmo alucinante com que redigia, colava os papéis para não precisar trocá-los na máquina de escrever. Uma viagem sem paradas. O volume redigido assustou o editor, que lançou a primeira edição em 1957 – seis anos depois de receber os originais.
A trama é simples: Sal Paradise (espécie de alterego de Kerouac) põe o pé na estrada em uma viagem pelo país com seus amigos, em especial Dean Moriarty a quem admira com seu jeito louco e sedutor. O livro é resultado do rememorar dessas aventuras.
Mas a simplicidade para por aí. A densidade das experiências revela as angústias daquela geração nascida em meio a grande depressão capitalista de 1929, do entreguerras (1918-1939), das ditaduras fascistas e comunistas e dos horrores da 2ª Grande Guerra (1939-45). O mundo parecia pequeno demais segundo os valores do american way of life (o modo de vida americano).  
Kerouac, assim como outros jovens escritores, músicos, artistas, procuraram um caminho fora dos padrões. Puseram-se a percorrer o mundo, contestando-o. Um exercício para decifrá-lo, entenderem a si mesmos e tentar mudar a realidade. Experimentar era o método. Whisky, maconha, benzendrina e outros fármacos estavam na dieta. Quebra de tabus sexuais, orgias, homossexualidade rompiam os pudores e moralismo. Naturalmente, tamanha entrega tinha o seu preço: ressaca corpórea, mental e emocional. Mas fazia parte do processo para se conhecerem, se libertarem e favorecer a criação artística.
Esse grupo, no qual se destacam também, entre outros, Allen Ginsberg, William Burroughs, Gregory Corso, gritou alto e ecoou no mundo ocidental: ficou conhecido como a geração beat, ou beatniks. Em meados de 50 outros jovens artistas foram associados ao movimento dado seu modo criativo e contestador das regras sociais. Nos anos 60, em meio à guerra fria, ditaduras, guerra do Vietnã, discriminações étnico raciais, contestações em todo o mundo capitalista e socialista explodiram. Os protestos políticos e sociais passaram pelos códigos culturais e comportamentais. Uma década de protestos na qual os beatniks foram alçados ao Olimpo. Inspirados em Kerouac, Ginsberg e companhia, as novas gerações certamente vivenciam um sentido de liberdade bem distinto daquele da primeira metade do século passado.

On The Road é, portanto, um estandarte da geração beat. Um testemunho histórico de uma revolução cultural. Adaptar toda essa densidade para o cinema não é tarefa fácil, como atesta o fato de nenhum diretor e produtor terem encarado o desafio – aparte o livro ser uma referência formadora entre a maioria quase absoluta do mundo artístico.
Coube ao diretor brasileiro Walter Salles Júnior (Terra Estrangeira, Central do Brasil, Abril Despedaçado, Diários de Motocicleta) a tarefa. Felizmente, a lacuna foi preenchida e com bom resultado de adaptação da linguagem literária para a cinematográfica. Mais uma vez o diretor se vê às voltas com um road movie (filme de estrada), cuja dinâmica segue o ritmo de uma viagem. Sua experiência nesse gênero reflete na segurança com que dirige o filme: tomadas, enquadramentos, luz, cortes e montagem, enfim as especificidades técnicas que lhes credenciam como um respeitado diretor. A adaptação do roteiro ficou a cargo de Jose Rivera, enquanto a linda fotografia tem créditos de Eric Gautier (ambos trabalharam com o diretor em Diários de Motocicleta).
Pode-se até encontrar algumas críticas quanto a uma idealização romântica do livro, exemplificada em um Sal Paradise quase blasé mesmo nos momentos em que as coisas não iam muito bem. De fato, ao ler o livro a angústia daqueles personagens-reais é a tônica da narrativa de Kerouac. Mas esses são o Sal, Dean, Camille, Marylou, Bull nas lentes de Walter Salles; e em nada prejudica o filme.
É um capítulo a parte a trilha sonora que conduz os personagens em sua busca desenfreada pela vida. No final da década de 1940, um jazz com fraseado rápido e experimental embala os freqüentadores de bares e inferninhos norte-americanos, indo ao encontro dos anseios da geração beat. E posso dizer que a sedução daqueles acordes e arpejos transpassa a telona e deixa a plateia chapada. Sair do cinema com vontade de comprar a trilha do filme não parece que será exclusividade de um espectador...

On the Road é um documento geracional, apropriado pelas gerações vindouras. O filme recoloca suas questões básicas: liberdade, criatividade, honestidade. Mas como trabalhar em sala de aula um texto e um filme com imagens tão fortes como as descritas cenas com muito sexo, muitas drogas, linguajar fora da norma culta, tudo isso envolto a um jazz sedutor?
Certamente observar a faixa etária é fundamental. Mas, mais do que uma questão de idade, o perfil da turma é que deverá orientar o planejamento para seu uso pedagógico. Por essa via, talvez um projeto interdisciplinar seja o caminho ideal. É perceptível o potencial das temáticas levantadas pelo livro/filme nos campos disciplinares da, entre outras, história, literatura, artes, música, geografia, bem como temas como sexualidade, drogas, família, cidadania; tão caros à formação estudantil. Temas que ainda provocam polêmica e por isso permanecem atuais. Mas que, como nos ensinaram os personagens da novela de Kerouac e pelos reais beatniks, precisam ser tratados de frente, problematizados com honestidade. Afinal, preconceitos e hipocrisia não condizem com a liberdade – nem de ensinar, nem de aprender.

(veja trailer do filme em: http://www.youtube.com/watch?v=uUzklNReJbs)

Para saber um pouco mais sobre o tema, vale a pena ler:


On The Road (Na estrada), de Jack Kerouac
Naked Lunch (Almoço Nu), de William Burroughs


Geração Beat, de Cláudio Willer



                           E ainda assisitir aos filmes :



 
Mistérios e Paixões (dirigido por David Cronenberg, 1991)
(adaptação de Almoço Nu – em infeliz tradução para o português)

                                             
     










Beat (dirigido por Gary Walkow, 2000)

















Rodrigo de Almeida Ferreira

Ficha técnica:

Diretor: Walter Salles
Elenco: Kristen Stewart, Amy Adams, Viggo Mortensen, Kirsten Dunst, Garrett Hedlund, Alice Braga, Sam Riley.
Produtor: Francis Ford Copolla
Produção: Charles Gillibert, Nathanaël Karmitz, Jerry Leider, Rebecca Yeldham, Walter Salles
Roteiro: Jose Rivera
Fotografia: Eric Gautier
Trilha Sonora: Gustavo Santaolalla
Duração: 137 min.
Ano: 2011
País: EUA
Gênero: Drama
Cor: Colorido
Distribuidora: PlayArte
Estúdio: American Zoetrope / Film4 / MK2 Productions / Video Filmes
Classificação: 16 anos
(disponível em: http://www.cineclick.com.br/filmes/ficha/nomefilme/na-estrada/id/17178)




domingo, 15 de julho de 2012

 LUZ, CÂMERA E HISTÓRIA: O FILME NA SALA DE AULA! 

ASSISTIU...  VIOLETA FOI PARA O CÉU

Nuestra América! A história da cantante Violeta Parra é contada na película Violeta foi para o Céu, dirigido pelo compentente cineasta Andrés Wood (dirigiu entre outros Machuca), baseado no livro homônimo escrito pelo filho da cantora, Ángel Parra.  
Violeta Parra tornou-se referência para a música popular chilena. Mestiça indigena, viveu uma infância pobre. Enfrentou muitas dificuldades para ter seu talento e trabalho reconhecidos. Autodidata,  aprendeu violão empreendendo os ritmos de comunidades locais andinas. Também por observação, pintou quadros e criou tapeçarias, chegando a expor suas peças no Louvre. O filme aborda ainda sua atribulada vida emotiva, com intensos conflitos e paixões que tanto influenciaram suas escolhas. 
Para além da arte, Violeta se dedicou à memória da cultura andina. Procurou os anciões das vilas e aldeias interioranas para pesquisar e registrar a tradição. Usou seu talento para tornar pública essa história, bem como registrar a pobreza e exploração do povo: a metáfora entre a galinha e o gavião é representativa. Talvez um ponto que merecia maior esclarecimento está em como - em um período de intensa mobilização social na América Latina em meio à Guerra Fria - o partido comunista chileno e a intelectualidade à esquerda a abraçaram.  
Provavelmente, um restrito círculo conhece essa história. No Brasil, talvez a referência maior recaia nas regravações de Chico Buarque e Elis Regina. A própria distribuídora do filme apela para uma infeliz comparação entre o trabalho com a tradição popular emrpeendido por Parra (que chegou a criar um centro de arte folclórica, onde viveu até seus últimos dias) com o folk cantado por Bob Dylan. 
Se fosse apenas para registrar a história dessa mulher, artista e batalhadora dos Andes, já valeria o ingresso. Mas o filme é uma poesia, uma música. Seus atores interpretam com maestria e tem recebido prêmios pela atuação. A fotografia, a estrutura narrativa, os cortes e a montagem, a trilha sonora... enfim, um filme que justifica o cinema como sétima arte.

Rodrigo de Almeida Ferreira

Ficha Técnica
Diretor: Andrés Wood
Elenco: Francisca Gavilán, Thomas Durand, Christian Quevedo, Gabriela Aguilera, Roberto Farías, Marcial Tagle, Juan Quezada, Sergio Piña, Daniel Antivilo, Pedro Salinas
Produção: Paula Cosenza, Denise Gomes, Patricio Pereira, Pablo Rovito, Fernando Sokolowicz
Roteiro: Eliseo Altunaga
Fotografia: Miguel Ioann Littin Menz
Duração: 110 min.
Ano: 2011
País: Chile/ Argentina/ Brasil
Gênero: Drama
Cor: Colorido
Distribuidora: Imovision
Estúdio: Ancine / Andrés Wood Producciones
Classificação: Livre
Disponível em http://www.cineclick.com.br/filmes/ficha/nomefilme/violeta-foi-para-o-ceu/id/18191

terça-feira, 10 de julho de 2012

ACONTECE...


Simpósio Internacional de História Pública: A história e seus públicos. O evento tem como meta avançar nas discussões sobre a ampla gama de questões teóricas e práticas em torno da história pública no Brasil, visada em perspectiva internacional. Promovido pelo Núcleo de Estudos em História da Cultura Intelectual (NEHCI-USP) e sediado nas dependências da Universidade de São Paulo de 16 a 20 de julho de 2012, ele funcionará como um grande laboratório para a reunião de pesquisadores acadêmicos, profissionais, professores, estudantes e demais interessados em discutir temas e formular questões, ensaiar a solução de problemas, compartilhar ideias e experiências, avaliar o papel da criatividade e da inovação na difusão do conhecimento histórico. 
A História Pública é um campo profícuo para as discussões da relação entre o cinema e a educação, sobretudo na seara da História. Discussões estas que tem sido acompanhadas e incorporadas pelo projeto Luz, Câmera e História: o filme na sala de aula!, que se fará representar no evento com a participação do profº Rodrigo de Almeida na mesa redonda: Quanto de história pública há na educação histórica?  
Seguem os links do Simpósio e a programação das mesas redondas:
http://historiapublica.com/
http://historiapublica.com/programacao-geral/mesas-redondas/ 

 
Para saber mais sobre a temática, confira o livro: Introdução à História Pública, organizado por Juniele Râbelo de Almeida e Marta Gouveia O. Rovai.


Rodrigo de Almeida

segunda-feira, 9 de julho de 2012

LUZ. CÂMERA E HISTÓRIA... EM FÉRIAS

A equipe do Luz.Câmera e História: o filme na sala de aula!, agradece a participação de todos nas atividades do projeto que ocorreram nesse semestre. As sessões de Xica da Silva, Quanto Vale ou é Por Quilo? e Quase Dois Irmãos foram um sucesso e proporcionaram ricos debates. Agora faremos uma pausa para as férias semestrais. Durante esse descanso, continuaremos a pensar em novas atividades para a continuidade do projeto no próximo semestre. E, claro, aproveitar para assistir a muitos filmes. Por isso, compartilhe em nosso blog/facebook suas dicas e comentários sobre filmes visto em julho.  

sábado, 16 de junho de 2012

INSCRIÇÕES PARA SESSÃO COMENTADA

  QUASE DOIS IRMAÕS - 23/06


Quem quiser participar da sessão comentada do filme Quase dois irmãos, que será exibida em 23 de junho às 10h, na Casa UNA, basta enviar um comentário nesta postagem (é só clicar no link comentários, logo abaixo) deixando seu nome completo, e instituição de ensino (se for o caso).
Solicitamos o favor de realizar esse procedimento devido ao número restrito de assentos no local de exibição.
 
Equipe Luz. Câmera. História! o filme na sala de aula.
QUASE DOIS IRMÃOS
exibição comentada em 23 de junho

Fechando o ciclo de sessões comentadas desse semestre, será exibido Quase Dois Irmãos, dirigido por Lúcia Murat. O filme dá continuidade às discussões levantadas nas exibições de Xica da Silva e Quanto vale ou é por quilo?, centradas na formação social brasileira, assentada em relações escravistas e administrações em que o público e o privado se confundem. As tensões sociais apresentadas na história de dois amigos de infância: Jorge, negro e pobre, e Miguel, branco de classe média, que se reencontram em momentos diferentes da história brasileira. O destino dos garotos são distintos, porém sempre entrecruzando-se. Jorge se tornou um traficante e reencontra Miguel como prisioneiro político em Ilha Grande, durante a ditadura militar. Depois, novamente na cadeia, o agora senador Miguel procura o amigo, ainda encarcerado, para propor a implantação de um projeto social na área onde ele controla o tráfico de drogas. Em meio a isso, Miguel tenta evitar que sua filha continue a se envolver com um traficante. A narrativa trabalha com estereótipos correntes no imaginário social do país, destacando heranças do  escravismo e a distância sócio econômica entre os brasileiros e o fantasma dos preconceitos; nos estimulando a (re)pensá-los.

Rodrigo de Almeida Ferreira

Sinopse
Quase Dois Irmãos (diretora Lúcia Murat, 2004) 
Miguel é um Senador da República que visita seu amigo de infância Jorge, que se tornou um poderoso traficante de drogas do Rio de Janeiro, para lhe propôr um projeto social nas favelas. Apesar de suas origens diferentes eles se tornaram amigos nos anos 50, pois o pai de Miguel tinha paixão pela cultura negra e o pai de Jorge era compositor de sambas. Nos anos 70 eles se encontram novamente, na prisão de Ilha Grande. Ali as diferenças raciais eram mais evidentes: enquanto a maior parte dos prisioneiros brancos estava lá por motivos políticos, a maioria dos prisioneiros negros era de criminosos comuns. 
 fonte: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-60537/

terça-feira, 5 de junho de 2012

ACONTECE...

A História Permanente do Cinema é um projeto que exibe na capital mineira filmes clássicos da cinematografia mundial, seguido de comentários. As exibições acontecem na Sala Humberto Mauro (Palácio das Artes), sempre às quintas-feiras, às 17 horas, com retirada gratuita dos ingressos meia hora antes da sessão. Em junho os filmes apresentados são:

07 QUI 17h  
A Felicidade não se compra | (14 anos) | 130’ | Sessão comentada pelo professor e pesquisador Nísio Teixeira

14 QUI 17h 
O Terceiro Homem, de Carol Reed | (14 anos) | 104’ | Sessão comentada pelo crítico e curador Ewerton Belico

21 QUI 17h
Uma Rua Chamada Pecado, de Elia Kazan | (16 anos) | 122’ | Sessão comentada pela cineasta Ricardo Alves Jr.

28 QUI 17h 
Sala de Música, de Satyajit Ray| (12 anos)| 100’ | Sessão comentada pelo professor e pesquisador Guaracy Araújo

Para maiores informações, consultem o site da Fundação Clóvis Salgado: 
http://www.fcs.mg.gov.br/agenda/2734,historia-permanente-do-cinema.aspx

quinta-feira, 31 de maio de 2012


LUZ. CÂMERA. HISTÓRIA... NO RÁDIO

O Luz. Câmera. História... o filme na sala de aula!, pega uma carona no lançamento de On the Road (Na Estrada). A película é a adaptação do clássico livro da contra-cultura On the Road, escrito por Jack Kerouac, em 1957. O autor e o livro tornaram-se ícones beatiniks, movimento literário, musical e estético que ajudou a redefinir os padrões culturais a partir da 2ª metade do século XX. Como o filme dirigido pelo brasileiro Walter Salles Júnior só estreará no Brasil em julho, seguiremos a estrada analisando aspectos do movimento beatinik, e seus desdobramentos na onda hippie e da tropicália brasileira, a partir do filme Aconteceu em Woodstock, do diretor Ang Lee (2009). Nesse filme, o famoso festival da geração “paz e amor” é retratado em seus bastidores, contando com excelente trilha sonora; ainda que não apresente um único trecho dos famosos shows ocorridos; favorecendo a problematização histórica de variados aspectos sócio-comportamentais das décadas de 1950-70. A sessão, que integra o programa Pensar a Educação, Pensar o Brasil, será apresentada pelo profº. Rodrigo de Almeida às 21:15. Então, sintonize seu rádio ou internet, ouça e participe do debate conosco.

quinta-feira, 24 de maio de 2012


ACONTECE...

A 7ª Mostra de Cinema de Ouro Preto – CINEOP – acontecerá entre os dias 20 e 25 de junho. Como tem sido característica do evento que ocorre na bela cidade colonial mineira, além da exibição de filmes da sétima arte, a 7ª CINEOP mantém sua preocupação em discutir a preservação e restauração da memória cinematográfica brasileira. A ideia é refletida nos seminários, oficinas e no Encontro de Arquivo ligados ao Audiovisual.
Outro ramo que se destaca na Mostra é a Sessão Cine-Escola, voltada para discutir o uso do filme no campo educacional. Tendo como público alvo profissionais da educação, estudantes e interessados em geral, o Cine-Escola exibirá filmes sugeridos para as faixas etárias entre 5 e 18 anos. Há ainda a Mostrinha de Cinema, voltada para o público infantil.
As inscrições para as oficinas e para o cine-escola já estão abertas, são gratuitas e limitadas. Para maiores informações acesse o site do evento:
http://www.cineop.com.br/index.php

terça-feira, 22 de maio de 2012

ACONTECE...


A segunda edição de O Crime tem seu encanto  II exibe filmes de grandes diretores que abordam temas relacionados à máfia e ao crime. Entre os dias 21 e 25 deste mês, o Cine Humberto Mauro recebe clássicos de Stanley Kubrick, Martin Scorsese, Quentin Tarantino, entre outros expoentes do cinema internacional. A mostra, com entrada franca, revela a excitante sensação de poder e a fragilidade humana por meio de obras que permeiam o imaginário social, cultural e cinematográfico norte-americano. 

Confira a programação, conforme divulgado pelo site da Fundação Clóvis Salgado

21 SEG
16h30 | Serpico, de Sidney Lumet | (12 anos) | 130'
21h30 | O Grande Golpe, de Stanley Kubrick | (12 anos) | 89'

22 TER
17h | Era uma vez na América, de Sergio Leone | (14 anos) | 229'
21h | Os Bons Companheiros, de Martin Scorsese | (14 anos) | 145'

23 QUA
16h | Fogo contra Fogo, de Michael Mann | (14 anos) | 170'
19h | Caminhos Perigosos, de Martin Scorsese | (16 anos) | 112'
21h | O Ano do Dragão, de Michael Cimino | (16 anos) | 134'

24 QUI
19h30 | Fogos de Artifício (Hana-bi), de Takeshi Kitano | (16 anos) | 103'
21h30 | Cotton Club, de Francis Ford Coppola | (14 anos) | 127'

25 SEX
15h30 | O Ano do Dragão | (16 anos) | 134'
18h | Pulp Fiction, de Quentin Tarantino | (18 anos) | 154'
21h | Serpico, de Sidney Lumet | (12 anos) | 130'

Fonte: http://www.palaciodasartes.com.br/agenda/2671,o-crime-tem-seu-encanto-ii.aspx

sábado, 12 de maio de 2012

INSCRIÇÕES PARA SESSÃO COMENTADA

  QUANTO VALE OU É POR QUILO? - 19/05


Quem quiser participar da sessão comentada do filme Quanto Vale Ou é Por Quilo?, que será exibida em 19 de maio, às 10h, na Casa UNA, basta enviar um comentário nesta postagem (é só clicar no link comentários, logo abaixo) deixando seu nome completo e instituição de ensino.
Solicitamos o favor de realizar esse procedimento devido ao número restrito de assentos no local de exibição.
Grato pela compreensão, 
Equipe Luz. Câmera. História! o filme na sala de aula.
QUANTO VALE OU É POR QUILO?
exibição comentada em 19 de maio de 2012

O início do século XXI é marcado por significativas mudanças nas relações econômicas, de trabalho e sociais. É possível perceber nesses tempos atuais uma maior fluidez na organização social, pensando juntamente com o sociológo polonês Zygmunt Bauman (entre os livros do autor publicados no Brasil, ver Modernidade Líquida, de 2000, e Capitalismo Parasitário e Outros Temas Contemporâneos, de 2010, ambos pela Jorge Zahar Editor). As formas das sociedades se organizarem tem destacado cada vez mais o conceito de comunidades e ações setorizadas, articuladas pela ação civil, ao mesmo tempo em que o Estado tem se esvaziado das responsabilidades outrora a ele atribuído. As Organizações Não-Governamentais e Associações são exemplos emblemáticos desses tempos. Contudo, na mesma medida em que esses espaços ganham relevância, também surgem questionamentos sobre esse caminho, além de denúncias sobre desvios de condutas de inúmeras ONG's e Associações.
Sérgio Bianchi lançou Quanto vale ou é por quilo? em 2005, três anos após começar a rodá-lo. De certo modo, o filme se inscreve nesse cenário reflexivo. Em uma instigante estratégia, o diretor mescla temporalidades históricas bastante distintas para discutir aspectos estruturais da sociedade brasileira relacionadas a exploração da pobreza, assistencialismo e uma mentalidade da cordialidade, como havia definido Sérgio Buarque de Holanda. O filme faz uma analogia entre as relações escravistas e de dependência com a atuação de uma ONG cujo principal objetivo da sua mantenedora é a autopromoção, e ainda o uso inescrupuloso por políticos da situação de pobreza, por meio do assistencialismo.
Quanto vale ou é por quilo? provocou boas reações nos espectadores e críticos. Igualmente é um filme com excelente potencial pedagógico a ser explorado, bem como casa com a ideia do cinema como uma espaço para a construção de uma História Pública, já que diversos aspectos da sociedade brasileira podem ser trabalhados. Confira abaixo a sinopse do filme e venha assistí-lo na sessão comentada que ocorrerá no sábado, 19 de maio, na Casa UNA. 

Quanto vale ou é por quilo?  (direção de Sergio Bianchi, 2005)
“Uma analogia entre o antigo comércio de escravos e a atual exploração da miséria pelo marketing social, que forma uma solidariedade de fachada. No século XVII um capitão-do-mato captura um escrava fugitiva, que está grávida. Após entregá-la ao seu dono e receber sua recompensa, a escrava aborta o filho que espera. Nos dias atuais uma ONG implanta o projeto Informática na Periferia em uma comunidade carente. Arminda, que trabalha no projeto, descobre que os computadores comprados foram superfaturados e, por causa disto, precisa agora ser eliminada. Candinho, um jovem desempregado cuja esposa está grávida, torna-se matador de aluguel para conseguir dinheiro para sobreviver.”
fonte: www.cinemateca.com.br  

Publicado por Rodrigo de Almeida Ferreira
 

segunda-feira, 7 de maio de 2012

LUZ. CÂMERA. HISTÓRIA... NO RÁDIO

O Luz. Câmera. História... o filme na sala de aula!, aproveitando a celebração do Dia do Trabalhador (1º de maio), levará à sessão Educação e Cinema desta segunda, 07 de maio, pela Rádio UFMG Educativa, 104,5 FM, uma discussão sobre o trabalho e os trabalhadores. O filme base para nossas reflexões será Eles não usam black tie (dir. Leon Hirszman, 1981), cujo roterio é uma adaptação da peça homônima escrita por Gianfrancesco Guarnieri, que também atua na película. A história narra o drama de uma familia de trabalhadores cujo pai militante, que havia inclusive passado algum tempo preso durante a ditadura, entra em conflito com seu filho devido ao seu individualismo. O estopim do drama ocorre quando uma greve é deflagrada, mas o filho se nega a participar com medo das represálias e de perder o emprego, justamente quando está para se casar com sua noiva grávida. É uma excelente oportunidade para pensar o papel dos trabalhadores na sociedade e também para conhecermos melhor o Brasil do início dos anos de 1980, quando a ditadura militar dava sinais de enfraquecimento e a sociedade civil crescia em poder com várias mobilizações como as greves do ABC ((1979-80), a campanha pela Anistia Política, o início da campanha das Diretas Já, o movimento da Democracia Corinthiana (81-85). A sessão, que integra o programa Pensar a Educação, Pensar o Brasil, será apresentada pelo profº. Rodrigo de Almeida às 21:15. Então, sintonize seu rádio ou internet, ouça e participe do debate conosco.

terça-feira, 24 de abril de 2012



XICA DA SILVA
exibição comentada em 28 de abril de 2012

A história da ex-escrava Francisca da Silva representa um caso interessante do nosso passado. Primeiro, pelo fato desta cativa do arraial do Tejuco (atual Diamantina) ter se envolvido amorosamente com o Contratador dos Diamantes, João Fernandes de Oliveira, um dos homens mais ricos e poderosos do Império Português do século XVIII. Apesar deste tipo de relação entre senhor e escrava ter sido comum na sociedade luso-brasileira, a estabilidade desta união foi duradoura e com muitos filhos. O destaque sócio-político e econômico do contratador lhe garantiu sustentar aquela situação que rompia os padrões da época, mas também alimentou o escândalo e oposição por tamanha distância étnica-social.
Em segundo lugar, a história que se passou no interior de Minas Gerais é bastante conhecida em vários pontos do extenso território brasileiro. O modo como essa história se disseminou exemplifica como o passado histórico circula e é utilizado por variados setores da sociedade. Sem dúvida, o filme Xica da Silva, lançado por Cacá Diegues em 1976, foi muito importante para a construção dessa história pública. O filme segue o ritmo de uma comédia carnavalesca embalada pela contagiante música-tema de Jorge Ben. E conta, ainda, com interpretações memoráveis tanto de atores conhecidos, como Walmor Chagas e José Wilker, quanto nomes em início de carreira, como Zezé Mota e Stephan Nercessian.
Mas antes de virar filme, a história da sociedade diamantinense já havia sido registrada por diferentes suportes. Memórias do Distrito Diamantino, escrito pelo jornalista e memorialista Joaquim Felício dos Santos, no século XIX, retrata em suas páginas a ex-escrava Francisca da Silva, porém com outras cores da representação mais conhecida atualmente. A depreciação da história de Xica reflete os valores preconceituosos correntes naquele final de século.
Uma mudança na abordagem da temática ocorre em 1963, quando a escola de samba carioca Acadêmicos do Salgueiro levou para a avenida o enredo Xica da Silva: a mulata que era escrava. O samba enredo, composto por Anescarzinho e Noel Rosa de Oliveira, retomava a narrativa construída no século XIX, porém desta vez a negra ganhava destaque por ter conseguido aproveitar as brechas na sociedade e ganhar prestígio local. O desfile foi um sucesso, trazendo inovações para a produção carnavalesca e foi coroado com o título para escola.
Poucos anos depois, a literatura reforçou a ideia de uma ex-escrava poderosa. Em 1966 foi lançado o livro Chica que manda, de Agripa Vasconcellos, um autor que se notabilizou por romances históricos tendo como fundo Minas Gerais; como Chico Rei e Dona Beija. Como se percebe, muitas já eram as referências sobre Xica da Silva, e o diretor Cacá Diegues soube muito bem aproveitar delas para reconstruir a história. Além da literatura e do carnaval, é possível perceber um conjunto iconográfico nos cenários e nas cenas do seu longa-metragem. A Xica de Cacá foi tão impactante que até o nome da ex-escrava passou a ser grafado com “X”.
E o imaginário em torno de Xica da Silva prosseguiu com a telenovela feita pela extinta Rede Manchete, em 1996. O sucesso da produção se apropriava de outras referências, ao mesmo tempo em que criava uma Xica extremamente sexualizada e vingativa.
Como se percebe, em um século de registros há uma intensa circularidade do conhecimento histórico, tornando a história desta ex-escrava conhecida em todo o país e mesmo no exterior, pois diante desta riqueza a historiadora Júnia Furtado desenvolveu intensa pesquisa cujos resultados foram publicados no livro Chica da Silva: o outro lado do mito, traduzido para o inglês.
Portanto, são múltiplas as possibilidades analíticas dessa história. A exibição comentada do filme Xica da Silva oferecerá um pouco dessa discussão e de outros elementos dessa história pública.

Abaixo, seguem algumas obras sobre o tema:

 





Chica que manda, lançado por Agripa Vasconcellos em 1966, pela editora Itatiaia

Em Introdução à História Pública, lançado em 2011 pela Letra e Voz, reflexões sobre os espaços de produção e divulgação da História são temas de um conjunto de autores. Destaco o capítulo Cinema, Educação e História Pública: dimensões do filme Xica da Silva, de minha autoria









 

Chica da Silva: o outro lado do mito, ótimo trabalho histórico no qual Júnia Furtado parte da biografia da ex-escrava para melhor compreender aquela sociedade setecentista, lançado pela Cia das Letras em 2003. 


Publicado por Rodrigo de Almeida Ferreira

sexta-feira, 20 de abril de 2012

INSCRIÇÕES PARA SESSÃO COMENTADA

XICA DA SILVA - 28/04



Quem quiser participar da sessão comentada do filme Xica da Silva, que será exibida em 28 de abril, basta enviar um comentário nesta postagem deixando seu nome completo e instituição de ensino.

Solicitamos o favor de realizar esse procedimento devido ao número restrito de assentos na Casa UNA, onde o filme será exibido.

Grato pela compreensão, 
Equipe Luz. Câmera. História! o filme na sala de aula.

 

quarta-feira, 18 de abril de 2012

 Luz, Câmera e História! o filme na sala de aula. 
As sessões vão começar...


Nesse semestre a temática dos filmes a serem exibidos pelo Luz. Câmera e História! O filme na sala de aula. gira em torno de algumas abordagens feitas pelo cinema em relação ao negro na sociedade brasileira. Os três filmes escolhidos perpassam temporalidades históricas marcantes. 
O primeiro a ser exibido será Xica da Silva (dir.Cacá Diegues, 1976), que conta a história da ex-escrava  que ganhou prestígio ao se amasiar com o Contratador dos Diamantes, João Fernandes de Oliveira, um dos homens mais poderosos do Império português, pervertendo os valores vigentes na sociedade diamantina do século XVIII.
A sessão de maio exibirá Quanto vale ou é por quilo? (dir. Sérgio Bianchi, 2005), um ótimo trabalho que faz uma ponte entre o período da escravidão e os projetos assistencialistas de ong's de caráter muitas vezes duvidosos, permitindo perceber permanências de uma mentalidade escravista.
A sessão de despedida deste semestre acontecerá em junho e reserva o filme Quase dois irmãos (dir.Lúcia Murat, 2004). A diretora retrata a amizade entre duas crianças, uma branca de classe média alta, e outra negra pobre. O destino as separam, mas promove dois reencontros: um durante a ditadura militar, quando ambos estão presos no presídio de Ilha Grande; o branco como preso político e o negro como preso comum. Anos depois, um novo reencontro: o branco agora é senador da república, enquanto o negro se tornou um poderoso traficante.
Os filmes revelam o preconceito existente em nossa sociedade em ações sutis e muitas vezes internalizadas, mas que temos dificuldades para reconhecer, seja por um sentimento de culpa, seja por conveniência. Então, venha assistir aos filmes e participar dos debates conosco para pensarmos, por meio do conhecimento histórico e do cinema, questões da nossa organização social contemporânea.